terça-feira, 28 de julho de 2009

O Beco

Ao som de maracatus enxerga a arte que ninguém vê.

As cores vibram.

E com sua vibração parecem dançar ao ritmo do batuque.

Tudo é fotografado.

Imagens, vezes ocultas, se deixam desvendam pela lente da câmera.

Toda realidade e toda imaginação se unem - ah, como se beijam.

E a voz delicada de mulheres ecoam no beco. Beco que tem cidades, pessoas, idéias, mas se quer saem dali.

Todos tão estáticos, tão quietos, tão observadores - observados são.

Não há distinção, extinção, corrupção. Tudo igualmente colorido, igualmente expressivo.

Os olhos estagnam. Onde mais encontrar tal beleza, se não entre paredes tão estreitas?

Deixa Maria. Mas será que Maria já passou por lá?

Mulher digna de ser cantada no batuque dos colombolos, será que tu és digna também de enxergar?

Dançar, pintar. Qual mais bela entre as artes, já não se sabe distinguir.

Menina que dança, encanta, balança seus babados de cetim.

A fitar - estremeço!

Beleza delicada, mãos de algodão, terias feito todas aquelas cores?

"Só de mãos tão belas como as tuas poderiam brotar".

Mas não. Mãos calozas, grosseiras, que rasgariam teu cetim serviram àquelas imagens.

Mãos que em seu interior tem um batuque, uma dança, tem Marias, tem amor.


Mayara Franzini

Um comentário:

  1. Como ainda não havia lido isso?

    Mayra, é incrível como você usa a sintaxe do texto a favor do significado, ou melhor, em favor do que pretende dizer... Já conversamos sobre isso, e você sabe que procuro exatamente condensar a linguagem usando períodos curtos e elipses de constituintes da oração como adjuntos adnominais, etc... Você faz isso tão bem que não sei o que dizer... Muito bom o seu estílo...

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